quinta-feira, 15 de julho de 2010

Postagem de 2007 - Artigo 017

Os Perigos do "Esquecimento" global

"Uma geração passa, outra lhe sucede, mas a terra subsiste sempre." (Eclesiastes)

Por Júlio Wandam

Isso mesmo, caro leitor, não houve um erro de digitação ou falta de atenção do revisor do jornal quanto ao título acima neste artigo, é sobre estes perigos mesmo, que irei agora lembrar para nossos habitantes em comum deste planeta que gira no espaço profundo, o quanto nós esquecemos de que o grito de alerta já é algo muito antigo na história humana contemporânea, principalmente na terra Brasílis, que muito assiste nestes últimos 500 anos o saque de suas vestes, onde lhes retiram o manto verde que cobre nosso solo em busca de ouro, prata e todo o minério possível para a indústria, que expande-se principalmente nestes últimos 60 anos, além das lavouras de soja e milho transgênicos que estão "pintando" novas cores nas paisagens de vários biomas do Brasil, e as carvoarias, que lançam nuvens de fumaça no Maranhão, no sul do Pará e no Cerrado, destruindo a Serra Vermelha no Piauí em Projeto de Manejo Sustentável chamado Energia Verde, que segundo o "técnico" do projeto, "não é desmatamento..."


Mas é longe o tempo da atualidade, onde já nos alertavam. Segundo as pesquisas de historiadores, datam de 1784 as primeiras impressões sobre a realidade à época relacionadas a exploração madeireira, quando o Ouvidor da Comarca de Ilhéus, Franscisco Nunes da Costa, relata "Têm sido reduzidas a cinzas matas preciosas, e tão antigas como o mundo, fazendo uma perda qual não há cálculo que se possa computar". Mas, bem antes desta arguta visão do nobre Ouvidor, a Câmara de Salvador em 1660, enviava uma representação ao Rei de Portugal em que se manifestava contrária ao aumento do número de engenhos, fato que estava provocando a devastação das florestas na região do Recôncavo baiano.

Mas não pensem que naquela época apenas havia a degradação, havia também o descumprimento de leis que estavam nascendo para proteger as matas, bem como a impunidade alastrava mais a destruição do que o fogo posto na relva seca.

Quando o Ouvidor Franscisco Nunes da Costa iniciou seu ativismo contra a devastação, percebeu algo que se retrata neste atual momento no século 21, tendo escrito ao Rei dois séculos atrás, onde comentava que, apesar das medidas que adotara contra as ações de desmatamento, como advertências e notificações judiciais, as matas continuavam a ser queimadas, completando: "Todas essas riquezas desprezadas por esses homens rústicos e ambiciosos estão próximos a extinguir-se, se de todo não forem as matas defesas, vedadas e guardadas." (Silva, 1848, p.35)(1).

Ainda não estavamos nem perto da Era Industrial, que iniciaria no século 19 o aumento da temperatura global, que hoje estamos sendo doutrinados como se a culpa fosse dos seres humanos. Sim, mas quais seres humanos? Nunca tive indústria poluente, nem mesmo coloco fogo em floresta ou uso um veículo para emitir CO2 e outras porcarias para atmosfera. Umas "flatulências" são normais para os 6,5 bilhões de humanos como Eu, assim como os bilhões de bovinos, eqüinos, suínos e outros animais que soltam seus gases para o ar.

Nem mesmo faço parte do grupo de 10% de Ricos que detêm 90% da riqueza do Planeta, sendo que os 10% restantes destas riquezas, são divididas com 90% da população mundial, a parte Pobre.

Quando alertamos a sociedade sobre estes males da desastrosa aventura humana rumo ao conforto e a obtenção de bens materiais, que custam caro aos habitantes do Planeta em geral, adotamos o pensamento do fundador da ecologia política no Brasil, que em 1959, teria Henrique Roessler em declaração pública dito: "alarmar a opinião pública para convencer o Poder Público da necessidade urgente de providências".

No caso recente no Amado Rio dos Sinos de Roessler, que foi apunhalado pelos donos de curtumes e outras empresas, somente com a grita da Opinião pública é que algo foi feito para, no mínimo, mostrar a falsa preocupação dos órgãos públicos com o meio ambiente e algumas "maracutaias". Este é um dos fatos que não devemos esquecer, mas se voltarmos no tempo, na década de 40 o pioneiro da causa já alertava para a destruição do Rio dos Sinos, com fatos escabrosos de desmatamento, poluição, agressão a fauna e destruição de habitats de importância para a população e a natureza, sem a mínima preocupação das autoridades.(2)

Um de seus sucessores, na década de 70, no auge da eclosão do movimento ecológico, pacifista e anti-nuclear no mundo, surgia vindo de um emprego na indústria química, o sábio José Lutzemberger, que logo no começo de sua saga contra a agressão ambiental, nos alertava para os graves danos que causamos ao meio ambiente. Já aos 62 anos, em entrevista a revista Manchete em 04/01/1989 nos dizia o que hoje os cientistas nos alertam como se fosse novidade de seus estudos sobre a Amazônia. "Uma parte do Apocalipse pode começar aqui pertinho, logo ali no amazonas. Se a floresta amazônica for destruída, como está acontecendo, toda a bacia do grande rio sofrerá modificações climáticas desastrosas, que se refletirão por toda a Terra. A Amazônia é o ar condicionado do mundo. Sem esse ar condicionado, todos nós sofreremos". Para ele, mesmo que seja tema polêmico, nos lembra: "Ao contrário do que os nossos governantes pensam, o problema da Amazônia não é só nosso - não é de soberania nacional. É um problema mundial".(3)

Muitos anos após estas "certezas" do Velho Lutz, que se revelam verdadeiras na atualidade, e em fins de 2005 os caudais de águas amazônicas secaram, ainda encontramos "dúvidas" em pesquisas mais recentes, como nos estudos Mudanças Climáticas Globais e seus Efeitos sobre a Biodiversidade, financiada e apresentada ao público há poucos dias pelo MMA/FNMA, quando o coordenador José Marengo em entrevista nos diz: "Todos os modelos globais apontam para uma redução no nível de chuvas na Amazônia, mas ainda é preciso mais estudos para saber se essa projeção mais grave pode se concretizar. É preciso mais estudos para construir certezas".

Mais certezas? Mais estudos? Não será perda de tempo, visto até mesmo o George W. Bush, presidente da nação mais poderosa e poluidora do planeta ter reconhecido o problema do Aquecimento e da parcela de culpa de seu país pela situação? E a projeção mais grave que este estudo brasileiro diz é de que, no pior cenário de aquecimento global, a elevação da temperatura no Brasil pode modificar a vegetação da Amazônia e transformá-la em um novo cerrado.(4)

Problemas mundiais causados por alguns poucos países do primeiro mundo, pois no terceiro mundo, no caso do Brasil, são as florestas queimadas que emitem a maior parte das descargas de CO2 na atmosfera. Os emergentes China e Índia, poluidores e com suas economias e industrias em crescimento, nem perto passam do Protocolo de Kioto.

E este problema mundial é agravado diariamente, desde o século 16 no Brasil temos evidências de que começamos errado nosso progresso, por que copiamos modelos que davastaram as Florestas da Europa, por exemplo, e adotamos o modelo industrial que polui nossas águas e nos associamos a idéia de que "desenvolvimento" se conta pelo número de chaminés e postos de trabalho que são gerados por uma violenta "onda" tecnólogica que assola o planeta e suga o que pode para transformar em matéria prima para os produtos que são consumidos pela humanidade.

Nos esquecemos, e este é o grande mal dos seres humanos, de que somos parte deste emaranhado de ligações cosmológicas. Nos afastamos da divina criação e destruímos o paraíso que acreditamos estar tão longe de nossa Vida neste mundo.

Nos esquecemos das mensagens dos mestres, avatares e todo aquele que já passou por este planeta, e nos legou conhecimentos estes que estão latentes, guardados em nosso mundo interior, prontos para aflorar, como no pensamento platônico.

Basta que exista Compaixão pela natureza e pelos seres vivos, na grande diversidade de Vida que existe no Planeta Terra, para que algo comece a acontecer e possamos transformar as projeções catastróficas em previsões mais alentadoras para a humanidade.

(1) - Manifestações pela Conservação da Natureza no Brasil (1784-1889), Margaret Ferreira dos Santos, Rev. UNIARA nº 16-2005;

(2) - Prefácio ao livro O Rio Grande do Sul e a Ecologia - Henrique Luiz Roessler - Crônicas escolhidas de um Naturalista contemporâneo (J. Truda Palazzo, A. Carneiro e J.B. Santafé) SEMA-FEPAM,2005 ;

(3) - Ecologia - Salvemos a Amazônia - José da Silva Martins - Martin Claret Editora, 1989;

(4) - Amazônia pode virar Cerrado - Ambiente Brasil, 2007 - http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=29762

Postado em > http://sites.google.com/site/osverdestapes2/

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